Licenciatura: O sonho que comanda a vida

18 Outubro 2010

O ano lectivo começou e com ele o sonho de muitos estudantes cabo-verdianos de uma formação superior. As universidades nacionais já fervilham com os milhares de alunos que circulam entre as ilhas para começar e/ou continuar o caminho do tão desejado canudo. São guerreiros que fazem de tudo para estudar, desde abandonar família e amigos noutra ilha, até abdicar da diversão para trabalhar nas horas vagas e poder pagar os seus estudos.

Manuel Oliveira Silva, Djô, é um desses jovens. É natural da ilha do Maio e procura na Cidade da Praia ser economista e gestor. Faz contas à vida e aos dias para regressar à ilha natal. “A saudade é muita, apesar da minha ilha não ser tão longe de Santiago”, diz entre risos.
Já vai no segundo ano, mas ainda guarda na memória as “dificuldades” que teve de enfrentar há um ano atrás, ainda caloiro. “Falta de material – livros - , suficiente nas bibliotecas da Universidade Jean Piaget”, informa. Entretanto, conta que este ano “está melhor”, já entrou na “rotina”, e estão criadas as mínimas condições para que daqui dois anos possa entrar de corpo e alma no mercado de trabalho ou talvez no mestrado.
Interpelado sobre as criticas à qualidade do ensino no país, que já provocaram reações do ministro da Educação, Octávio Tavares, que sempre defende os seus, Djô não tem dúvidas em afirmar que “existe sim qualidade no ensino” cabo-verdiano, mas há quem não agarre as oportunidades. Muitos, diz, tendem a entrar por outras vias não muito saudáveis, esquecendo-se dos estudos, da formação continua como suporte do futuro e da vida. “Temos de nos esforçar e ser exigentes com nós próprios e com os outros”, aconselha. "A qualidade também passa pela forma como cada um se dedica ao curso que quer fazer".
Quem também não tem mãos a medir para tirar a licenciatura é Carlos Correia Oliveira, um dos cerca de onze mil alunos no ensino superior no país. Estudante do terceiro ano de Engenharia e Construção Civil na Uni-Piaget, Tcharles, como é conhecido entre os amigos, abdicou há três anos de muita diversão para trabalhar e poder pagar os seus estudos com o seu próprio bolso.
Flexível, custosa e exigente. Assim se pode classificar a vida de Tcharles, que vai às aulas de manhã e trabalha à tarde/noite. Por isso, diz, o tempo é “muito pouco” e não dá para divertir com amigos. “O pouco tempo que sobra, à noite, dá apenas para estudar com os colegas”.
Mas o “esforço a redobrar” está a ser recompensado com o correr “tranquilamente” da licenciatura. Com o aproximar do fim do sonho que comanda a vida, este futuro engenheiro da construção civil, vê com bons olhos o mercado nacional e quer que o esforço seja valorizado no futuro, com um bom emprego.

RP (in ASemana online)